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Formas químicas de administração da Glutamina


In: Glutamina: metabolismo e aplicações clínicas e no esporte - Dr. Rui Curi
Rio de Janeiro: Ed. Sprint. 18: 257-261, 2000

Introdução

 
E m um indivíduo de 70 Kg que consuma uma dieta com teor protéico médio de 52,5g por dia, sua ingestão diária média de glutamina é de quatro gramas. Em situações catabólicas, a glutamina é considerada um aminoácido condicionalmente essencial e o suplemento dietético de quantidades adequadas de glutamina tem sido recomendado¹. Contudo há aspectos importantes referentes às propriedades fisioquímicas da glutamina, que precisam ser considerados.
 
 
Formas químicas de glutamina
 
Duas propriedades químicas desfavoráveis da glutamina livre dificultam seu uso na rotina clínica: solubilidade limitada (Tabela 1) e instabilidade, especialmente durante esterilização técnica e estocagem prolongada. A glutamina se decompõe em ácido piroglutâmico e amônia, produtos tóxicos ao organismo, podendo degradar-se até mais de 50% ao dia, na temperatura de 20-30°C². O ácido glutâmico pode ser facilmente formado a partir da glutamina. Isto é mais freqüente em líquidos biológicos como o plasma, provavelmente devido à atividade da y-glutamiltransaminase³. O grau de degradação da glutamina livre depende da temperatura, pH e concentração de alguns íons.Portanto, a preparação apropriada de tal solução requer armazenamento a 4°C, condições assépticas restritas e estererilização, utilizando-semembrana de filtração e, mesmo assim, por curto período de tempo (dois a vinte dias)4. Para Diminuir o risco de precipitação, a concentração de glutamina em tais  soluções não deve exceder 1-1,5%5.


Embora a maioria dos autores condene o uso de glutamina livre, Elia² acredita que a infusão de pequenas quantidades de amônia e de ácido piroglutâmico, formados a partir da degradação de glutamina, não são suficientes para produzir efeitos tóxicos. Contudo tal prática deve ser evitada.


As desvantagens na utilização de L-glutamina em sua forma livre levou ao desenvolvimento de formas sintéticas mais estáveis. Dipeptídeos com resíduos de glutamina nas posições C- ou N-terminal e a acetil-glutamina são totalmente solúveis em água (Tabela 1) e suficiente estáveis, durante a esterilização térmica e estocagem prolongada. Uma forma alternativa de administração é o hidrolisado protéico de diversas fontes, mas principalmente do glúten de trigo, enriquecido com glutamina (Tabela 1). Esta forma d administração evita os possíveis efeitos adversos da sobrecarga de um único aminoácido. Além disso, representa uma condição muito próxima de uma ingestão alimentar normal, com a oferta balanceada de aminoácidos. Está bem demonstrado que o epitélio intestinal absorve di e tripeptídeos e desta forma não depende, necessariamente, da ação de peptidases intestinais.

 

Fontes de glutamina
 
As fontes naturais e semi-sintéticas são: glutamina ligada a proteínas e peptídeos, provenientes das proteínas do leite, soja, carne e seus produtos hidrolisados.


Um método de produção de uma fração oligopeptídica rica em glutamina, a partir do glúten, foi desenvolvida por Tanabe e colaboradores6. O glúten comercialmente disponível foi hidrolisado, primeiramente com molsina (protease tipo XIII) e depois com actinase, para produzir um hidrolisado, que foi purificado por cromatografia em uma coluna de adsorção (Sephadex G-15)(Sephadex G-15), obtendo-se uma fração de oligopeptídeo,contendo aproximadamente 50% de glutamina.


Os dipeptídeos de glutamina utilizados são glicil-glutamina (gli-gln) e alanil-glutamina (ala-gln).  Mais recentemente, a preparação de dipeptídeos, contendo glutamina, utiliza métodos biotecnológicos, nos quais a L-glutamina é obtida por fermentação e síntese de peptídeos catalisada por complexo enzimático de origem bacteriana ou fúngica7. Os dipeptídeos podem também ser preparados com uso de proteases de plantas como catalisadores biológicos, que têm como vantagens a estereo-seletividade da reação, a simplificação e o baixo custo².


Remoção de ambas ala-gln e gli-gln, quando comparada com os valores controles. A falência hepática não teve influência significativa sobre a remoção de ala-gln e gli-gln. Portanto, o rim é o órgão mais importante para a remoção de dipeptídeos e liberação de resíduos de aminoácidos para a circulação.


A atividade da hidrólise plasmática contra ambos os dipeptídeos foi testada in vitro por Hübl e colaboradores16. Ambos sofreram hidrólise relativamente rápida, quando incubados ao plasma in vitro. Entretanto, a velocidade de hidrólise foi significativamente maior para ala-gln (meia vida de quarenta e seis minutos) que para gli-gln (meia vida de quinhentos e cinqüenta e três minutos). Em ambos os casos, a hidrólise plasmática foi baixa para contribuir significativamente com a remoção in vitro. Portanto, a hidrolase plasmática não desempenha um papel significativo no metabolismo dos peptídeos. Ambos os dipeptídeos são primariamente metabolisados via hidrólise extracelular, presumivelmente por hidrolases nas membranas celulares e captação de resíduos de aminoácidos hidrolisados.

A meia vida da ala-gln in vitro é de 3,8 min17. Stehle e colaboradores18 realizaram estudo da Utilização da ala-gln em vários tecidos de rato. Depois da injeção intravenosa de ala-gln, marcada com carbono-14, a extensão da marcação radioativa de frações protéicas e não-protéicas do plasma, fígado, músculo e rim e do CO2 expirado foi determinada. Após quarenta minutos, a produção de 14CO2 atingiu valores máximos. Em todos os tecidos investigados, o declínio rápido das frações não protéicas marcadas foi acompanhado por um aumento da radioatividade nas frações protéicas. Somente traços de radioatividade foram encontrados na urina (menos que 1%). A quantidade marcada recuperada como percentual da dose injetada, três horas depois da administração do peptídeo, foi de 56% em CO2, 13% no músculo, 3,1% no fígado, 1,9% no plasma e 0,6% nos rins. Assim o suprimento intravenoso de ala-gln em ratos éRapidamente hidrolisado, com subseqüente utilização da glutamina liberada para produção de energia e síntese de proteínas.
 
Toxicidade da L-glutamina para uso clínico
 
Em humanos saudáveis ou criticamente doentes, não foram encontrados efeitos tóxicos da nutrição parenteral suplementada com glutamina.


A primeira preocupação dos pesquisadores seria com a toxicidade, devido à liberação de amônia antes e após a administração de glutamina livre ou dipeptídeos. Entretanto, as taxas de amônia liberadas parecem insignificantes, para causarem efeitos tóxicos. Há, no entanto, necessidade de avaliações mais detalhadas, nos casos de pacientes com função hepática comprometida19. A depuração plasmática dos dipeptídeos de glutamina em pacientes com cirrose hepática não se altera de modo marcante, mas na insuficiência renal crônica diminui14.

   Assim, as condições de cada paciente interferem na toxicidade da glutamina e esta deve ser futuramente melhor avaliada³. Foram detectadas alterações das atividades plasmáticas das enzimas hepáticas (notadamente das transaminases aspartato aminotransferase e alanina aminotransferase) em três de sete pacientes, após uma, duas ou três semanas de suplementação da nutrição parenteral total domiciliar com glutamina. Duas semanas após a retirada da suplementação, os valores voltaram invariavelmente ao normal. Por sua vez, Himmelseher e colaboradores20 não encontraram evidências da entrada do dipeptídeo gli-gln no SNC, sob condições normais da função da barreira hemato-encefálica.

 

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